introducção

este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de português e , pedido da professora da disciplina , foi realizado esta antologia poética com poemas de cinco poetas portugueses do século XX .
Ao longo desta antologia irei mostrar poemas que em comum têm o facto de falarem todos da história de Portugal e sobre mitologia .
escolhi este tema pois adoro história e mitologia .
espero que gostem pois fiz mesmo para voces

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida

tão concreta e definida

como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta

em que me sento e descanso,

como este ribeiro manso

em serenos sobressaltos,

como estes pinheiros altos

que em verde e oiro se agitam,

como estas aves que gritam

em bebedeiras de azul.


eles não sabem que o sonho

é vinho, é espuma, é fermento,

bichinho álacre e sedento,

de focinho pontiagudo,

que fossa através de tudo

num perpétuo movimento.


Eles não sabem que o sonho

é tela, é cor, é pincel,

base, fuste, capitel,

arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,

contraponto, sinfonia,

máscara grega, magia,

que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,

rosa-dos-ventos, Infante,

caravela quinhentista,

que é cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,

florete de espadachim,

bastidor, passo de dança,

Colombina e Arlequim,

passarola voadora,

pára-raios, locomotiva,

barco de proa festiva,

alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,

ultra-som, televisão,

desembarque em foguetão

na superfície lunar.


Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida,

que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança

pedra filosofal

pedra filosofal

exerto da mensagem de fernando pessoa

ULYSSES

O mytho é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mytho brilhante e mudo –

O corpo morto de Deus,

Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,

Foi por não ser existindo.

Sem existir nos bastou.

Por não ter vindo foi vindo

E nos creou.

Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundal-a decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre.

ullisses

ullisses

D.SEBASTIÃO REI DE PORTUGAL

Louco, sim, louco, porque quiz grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nella ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver addiado que procria?

o infante





Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Lusíada Exilado

Nem batalhas nem paz: obscura guerra.

Dói-me um país neste país que levo.

Sou este povo que a si mesmo se desterra

meu nome são três sílabas de trevo.


Há nevoeiro em mim. Dentro de abril dezembro.

Quem nunca fui é um grito na memória.

E há um naufrágio em mim se de quem fui me lembro

há uma história por contar na minha história.


Trago no rosto a marca do chicote.

Cicatrizes as minha condecorações.

Nas minhas mãos é que é verdade D. Quixote

trago na boca um verso de Camões.


Sou este camponês que foi ao mar

lavrou as ondas e mondou a espuma

e andou achando como a vindimar

terra plantada sobre o vento e a bruma.


Sou este marinheiro que ficou em terra

lavrando a mágoa como se lavrar

não fosse mais do que a perdida guerra

entre o não ser na terra e o ser no mar.


Eu que parti e que fiquei sempre presente

eu que tudo mandava e nunca fui senhor

eu que ficando estive sempre ausente

eu que fui marinheiro sendo lavrador.


Eu que fiz Portugal e que o perdi

em cada porto onde plantei o meu sinal.

Eu que fui descobrir e nunca descobri

que o porto por achar ficava em Portugal.


Eu que matei roubei eu que não minto

se vos disser que fui pirata e ladrão.

Eu que fui como Fernão Mendes Pinto

o diabo e o deus da minha peregrinação.


Eu que só tive restos e migalhas

e vi cobiça onde diziam haver fé.

Eu que reguei de sangue os campos das batalhas

onde morria sem saber porquê.


Eu que fundei Lisboa e ando a perdê-la em cada

viagem. (Pátria-Penélope bordando à espera.)

Eu que já fui Ulisses. (Ai do lusíada:

roubaram-lhe Lisboa e a primavera.)


Eu que trago no corpo a marca do chicote

eu que trago na boca um verso de Camões

eu é que sou capaz de ser o D. Quixote

que nunca mais confunda moinhos e ladrões.


Eu que fiz tudo e nunca tive nada

eu que trago nas mãos o meu país

eu que sou esta árvore arrancada

este lusíada sem pátria em Paris.


Eu que não tenho o mar nem Portugal.

(E foi meu sangue o vinho meu suor o pão.)

Eu que só tenho as lágrimas de sal

que me deixou el-rei Sebastião.


Lusíada exilado. (E em Portugal: muralhas.)

Se eu agora morresse sabia por quê.

Venham tormentas e punhais. Quero batalhas.

Eu que sou Portugal quero viver de pé.

Manuel Alegre

Manuel Alegre

segunda-feira, 6 de junho de 2011

comentario ao infante

"Foste desvendando a espuma e a orla branca foi de ilha em continente..."- a espuma das ondas que acabam nas praias ou rebentam contra os rochedos marca as costas com uma orla branca. A frase anterior é uma forma poética de dizer que as costas foram sendo descobertas, primeiro as ilhas e depois os continentes, "até ao fim do mundo".
"Quem te sagrou criou-te português"- porque, segundo Fernando Pessoa, Deus fadou Portugal para um magno destino e o Infante foi, por assim dizer, parte do "puzzle".
"Do mar e nós, em ti nos deu sinal"- através de ti revelou-nos que o nosso destino era o Mar.
"Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez...falta cumprir-se Portugal"- cumpriu-se o destinado: o Mar foi desvendado; o Império Português (isto é, o controle das rotas oceânicas e a hegemonia no Índico) desfez-se. Pessoa pensa que Portugal está destinado à grandeza futura, e isso ainda não se cumpriu!

comentario pessoal a D.sebastião

"areal"- o campo de Alcácer Quibir.
"ficou meu ser que houve, não o que há"- ficou o meu corpo, não a minha alma que vive eterna.
"sem a loucura que é o homem mais do que a besta sadia"- sem o sonho (impossível, neste caso) o homem é apenas um animal vivente.
"cadáver adiado que procria"- vivo e a reproduzir-se (sem outra finalidade do que, como nos animais, a propagação da espécie) mas inexorávelmente destinado à morte.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

comentario pessoal a mensagem de fernando pessoa (ullisses)

"O mito é o nada que é tudo"- esta frase exprime a ideia que Fernando Pessoa tinha dos mitos como potenciais motores sociológicos. Mesmo se falso (isto é, mesmo que não seja nada) um mito tem o potencial de provocar comportamentos sociais e, portanto, facilitar a evolução de uma nação segundo determinados vectores.
"O mesmo sol que abre os céus...etc"- provável referência aos deuses solares (ou mitos afins) que todos os dias eram supostos renascer à alvorada, depois de terem "morrido" no poente anterior.
"Este que aqui aportou"- referência a Ulisses, herói lendário da Odisseia e fundador mítico de Lisboa, onde teria aportado numa das suas navegações ("Lisboa" deriva de Olisippo e Ulixbona- em cuja raiz alguns creem ver o nome de Ulisses ou Odisseus).
"Foi por não ser existindo"- porque não era, foi existindo; foi-se insinuando na nossa realidade.
"a fecundá-la decorre"- a lenda tem uma interacção positiva com a realidade; "A vida, metade de nada, morre"- a vida por si só nada vale porque logo desaparece (mas o mito persiste!).

comentario pessoal a pedra filosofal

O tema deste extenso poema é o cântico ao sonho, entendido como a mola do progresso e da evolução do ser humano ao longo dos séculos. Ou seja, o sonho é o elemento que leva o Homem a fazer avançar o Mundo, a superar-se continuamente. Por outro lado, o sonho “é uma constante da vida”, sem a qual, citando Fernando Pessoa, o Homem é somente um “cadáver adiado que procria” (D. Sebastião, in Mensagem).

O título do poema – Pedra Filosofal – remete para a alquimia, isto é, para a substância que se adicionava aos metais pobres para serem transformados em ouro. Assim, com este título, António Gedeão associa o sonho humano à magia dos alquimistas, sugerindo que aquele, qual pedra filosofal, transforma em ouro as fraquezas e as pequenas ambições humanas.